Dancemos pois.

Às vezes, enxergamos pequenas coisas de forma muito mais assustadora do que realmente são, como as sombras do Mito da Caverna, só que em outro contexto. De início, incomoda, mas depois torna-se indiferente, e percebemos que essa tentativa de querer saber tudo nem sempre é necessária. Muitas vezes, quando a verdade se apresenta, já não importa mais, porque nós também não somos mais os mesmos.

Enfim, eu tinha um texto enorme sobra as sombras, as feras e os nossos medos desnecessários, mas achei pobre em conteúdo e pior ainda em forma, então vamos ao que interessa... Enquanto alguns fantasmas tentam ressucitar sem êxito, esperando que alguém os alimente, eu tento fazer o que realmente importa, viver, e desejo que todos façam o mesmo.

E, por falar em viver, estou amando as aulas de tango e quero ainda um dia dizer que sei dançar tango, risos, porque por enquanto estou uma negação...

Em homenagem a essa dança maravilhosa e sensualíssima, deixo o poema de um homem maravilhoso que conseguiu, com toda a humildade e simplicidade de um grande artista, falar de coisas lindas e complexas, da dança e da morte, do amor e da saudade, enfim, de coisas humanas e reais.






Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
...............................................................................................................................................
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.


Manuel Bandeira